ATA DA SEXAGÉSIMA SEXTA SESSÃO ORDINÁRIA DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA NOVA LEGISLATURA, EM 23.06.1987.
Aos vinte e
três dias do mês de junho do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se,
na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto
Alegre, em sua Sexagésima Sexta Sessão Ordinária da Quinta Sessão Legislativa Ordinária
da Nona Legislatura. Às quatorze horas e dez minutos, constatada a existência
de “quorum”, a Sr.ª Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que
fossem distribuídos em avulsos cópias da Ata da Sexagésima Quinta Sessão
Ordinária, que deixou de ser votada em face da inexistência de “quorum”. À MESA
foram encaminhados: pela Mesa, 01 Projeto de Resolução nº 14/87 (proc. nº
1262/87), que disciplina o pagamento de diárias a vereadores e funcionários da
Câmara Municipal de Porto Alegre; pelo Ver. Werner Becker, 01 Projeto de Lei do
Legislativo nº 41/87 (proc. nº 1261/87), que altera a Lei nº 5891/87, que
estabelece metodologia de cálculo de tarifas no serviço de transporte coletivo
por ônibus em Porto Alegre; pelo Ver. Hermes Dutra, 01 Projeto de Resolução nº
15/87 (proc. nº 1338/87), que concede o prêmio artístico “Lupicínio Rodrigues”
ao conjunto musical Os Araganos; 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 45/87
(proc. nº 1355/87), que declara de utilidade pública a União dos Escoteiros do
Brasil, Região do Rio Grande do Sul; pelo Ver. Ennio Terra, 01 Pedido de
Providências, solicitando transferência de todos os animais do Zoológico da
Praça da Redenção para o Jardim Botânico; da Ver.ª Teresinha Irigaray, 01
Pedido de Providências solicitando que seja nomeada uma Comissão Especial para
estudar a viabilidade de criação de um “corpo de Baile Municipal”. Do
EXPEDIENTE constaram: ofícios nº 067/87, do Sr. Diretor do Departamento de
Pesquisa da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Rio Grande do Sul;
277/87, da Câmara Municipal de Santo Cristo, Rio Grande do Sul; 466/87, do Sr.
Professor Irmão Elvo Clemente, Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUC; 2224/87 da Câmara
Municipal de Salvador Bahia; carta do Jurista, Senhor Antenor Pelegrino; telex,
do Professor Marcos Leão, Diretor Comercial da TV Bandeirantes, desta capital.
Em COMUNICAÇÕES, o Ver. Mano José discorreu sobre a greve que vem sendo
empreendida pelo magistério estadual, salientando que esta categoria luta pela
manutenção de um direito já adquirido, solidarizando-se com a mesma e
criticando o encaminhamento dado à questão pelo Governo Estadual. Analisou a
política econômica vigente no País. O Ver. Jorge Goularte falou sobre a
Assembléia Nacional Constituinte, lamentando que a mesma não esteja seguindo os
rumos progressistas que esperava o povo brasileiro. Defendeu o direito à maioridade
aos dezesseis anos, analisando os benefícios que isso traría à população e os
reflexos desta medida no setor de segurança pública. O Ver. Luiz Braz
reportou-se ao pronunciamento, de hoje, do Ver. Jorge Goularte, de defesa do
direito à maioridade aos dezesseis anos, concordando com alguns aspectos do
discurso de S.Exa. e salientando que muitos marginais buscam, inclusive, a
proteção da minoridade para não serem condenados pelos seus crimes. Atentou
para o fato de que grande parte dos jovens de dezesseis anos ainda não possuem
condições plenas de exercício de seu poder político. O Ver. Caio Lustosa falou
sobre as diversas dificuldades enfrentadas pelo Corpo de Bombeiros para o
exercício de seu trabalho, comentando lei aprovada por esta Casa, que outorga poder
ao Corpo de Bombeiros para submeter à exame prévio todas as construções do
Município, no sentido de facilitar a atividade desta instituição. Questionou os
motivos pelos quais a Prefeitura Municipal ainda não firmou convênio sobre o
assunto, solicitando do Pref. Alceu Collares medidas que permitam uma urgente
concretização deste convênio. Discorreu acerca da identificação criminal a que
foram submetidos os Senhores Omar Ferri, Jair Krischke e Agostino Veit,
dirigentes do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, solidarizando-se com
S.Sas. pela agressão sofrida. O Ver. Kenny Braga teceu comentários acerca da
necessidade de que o Estado ofereça à população ensino de 1º Grau gratuito,
destacando que isso não vem ocorrendo e discorrendo acerca da greve empreendida
pelo magistério estadual. Criticou a forma como o Gov. Pedro Simon vem
encaminhando a questão, salientando a intransigência observada nas atitudes dos
líderes dos professores no Rio Grande do Sul. E a Ver.ª Jussara Cony falou
acerca da viagem que fez, semana passada, à Brasília, como secretária da União
dos Vereadores do Brasil e integrante da Comissão de Vereadores que se deslocou
àquela cidade na luta por uma Constituição mais democrática e progressista. Leu
documento tirado das discussões mantidas no encontro ali realizado pelos
vereadores brasileiros e encaminhado à Comissão de Sistematização da Assembléia
Nacional Constituinte, onde é destacado o rumo conservadorista observado nos
trabalhos constituintes e são feitas propostas na busca de uma modificação
deste quadro. Durante os trabalhos, a Sr.ª Presidente registrou a presença, no
Plenário, do Ver. Ivo René, da Bancada do PMDB de Chapada, RS. Às quinze horas
e trinta minutos, nada mais havendo a tratar, a Sr.ª Presidente levantou os
trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para as reuniões das Comissões
Permanentes, a seguir, e para a Sessão Solene, às dezesseis horas, destinada à
outorga do título honorífico de Cidadão Emérito ao Dr. Mário Alexandretti. Os
trabalhos foram presididos pela Ver.ª Teresinha Irigaray e secretariados pela
Ver.ª Gladis Mantelli. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei
fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr.
Presidente e por mim.
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, em
Comunicações, o Ver. Mano José. V.Exa. está com a palavra e tem o tempo
regimental.
O SR. MANO JOSÉ: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores, hoje completam setenta e cinco dias que os professores do Estado do
Rio Grande do Sul estão paralisados em busca de uma posição que perderam,
depois de terem conquistado dois salários-mínimos e meio de piso salarial, com
o atual Governo, perderam! E, não se conformaram e nem devem se conformar,
porque é uma conquista límpida e clara do magistério estadual que o Governo do
Estado, que o Governador Pedro Simon não quer reconhecer e teima em virar as
costas ao magistério estadual. Pois, agora, S.Exa. colocou como negociador o
Vice-Governador, Sinval Guazelli. Pode ser que o Sr. Sinval Guazelli, como
Vice-Governador, aprenda realmente a dialogar com os professores, já que, como
Governador, não soube dialogar com eles. Como Governador, não reconheceu o
trabalho do magistério estadual e não deu ao magistério o valor que os
professores gaúchos têm pelo trabalho que realizam com as nossas crianças.
O Sr. Artur Zanella: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Só para contar nos Anais, é que o Sr. Governador deu
essa delegação ao seu Vice-Governador e desautorizou-o na mesma hora, porque
disse que, nos últimos vinte e cinco anos, essa gente que aí está, nunca fez
nada etc. e tal e, de saída, já nomeia um que foi nomeado e indicado, por
quatro anos, Governador pela antiga ARENA.
O SR. MANO JOSÉ: Agradeço pelo aparte de
V.Exa. Mas, vejam, Srs. Vereadores, que os professores, de uma parte,
prosseguem na sua posição que nós apoiamos. Posição que todos nós entendemos
correta. E o Governo segue na sua posição totalmente errada de não querer
reconhecer e de não querer dar aquilo que os professores estão a exigir, o
cumprimento de um acordo e o cumprimento de uma Lei que os ampara. Por isso,
nós temos já, a esta altura, centenas de milhares de jovens que estavam-se
preparando para o concurso vestibular e que praticamente já estão desistindo de
pensar sequer no exame vestibular do início do próximo ano, uma vez que nós
entendemos que já há quase impossibilidade de recuperação do ano letivo de
1987. E parece que as coisas tomaram um rumo tão triste para este Estado que
hoje pouco se fala na greve dos professores, não obstante a demonstração de
coragem desses professores, de estarem acampados na Praça da Matriz, defronte
ao Palácio Piratini, enfrentando as intempéries, enfrentando esse frio
terrível. Lá estão eles para demonstrarem ao Governador Pedro Simon que a
epopéia Farroupilha foi escrita também com a coragem do professor gaúcho. Lá
estão eles acampados na Praça da Matriz, enfrentando toda a sorte de
dificuldade para devolver e para mostrar ao Governador do Estado que, quem quer
que se cumpra a lei, deve dar o exemplo, sendo o primeiro a cumprir as leis, o
que não está fazendo, lastimavelmente, o Sr. Pedro Simon.
O Sr. Caio Lustosa: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Ver. Mano José, eu quero dizer a V.Exa. que desde o
primeiro instante um ponderável setor do PMDB se posicionou a favor das
pretensões do magistério e, hoje mesmo, à noite, no comitê do Dep. Federal
Hermes Zanetti, com integrantes do magistério, estaremos mais uma vez
pressionando o Governo do Estado, para que dê fim a esta greve, atendendo às
reivindicações do magistério gaúcho. Ontem, inclusive, nós fizemos aqui um
pronunciamento dentro da discussão do reajuste do funcionalismo em que mantemos
esta convicção de que, realmente, há um erro clamoroso de certos estrategistas
do Governo do Estado nesta má condução da greve do magistério gaúcho. Muito
obrigado.
O SR. MANO JOSÉ: Eu agradeço o aparte de
V.Exa., Ver. Caio Lustosa, e sei da posição de V.Exa. e sei da posição de
muitos integrantes do PMDB. Mas, lastimavelmente, assim nos parece que a grande
maioria do seu Partido deveria se mobilizar no sentido de pressionar o
Governador do Estado para que ele visse o mal que está causando a milhares de
jovens, de crianças e, principalmente, as crianças do 1º ano que interromperam
o seu processo de alfabetização e que não terão, possivelmente, mais condições
de retomá-lo este ano e aqueles jovens que terminam o 3º ano do 2º grau e que
deveriam se preparar para o vestibular. Lastimável sobre todos os aspectos é a
posição do Governador Pedro Simon que, no seu discurso de candidato, disse que
daria todo apoio ao professor, daria todo o apoio à educação e isto não se
confirma, hoje, quando, então, está no Governo. Parece-me, também, que fora da
educação, S.Exa., até agora, não fez nada neste Estado. Não tenho conhecimento
de que ele tenha feita nenhuma pinguela em riacho, quanto mais uma obra de
vulto para dizer que está empregando o dinheiro dos nossos coestaduanos numa
obra de vulto em benefício de todos. Parece-nos que nada fez, parece-nos que,
até agora, foi só choro, muito choro, realmente. Não tem dinheiro, não tem
isso, não tem aquilo, mas até 15 de março estava o Governador que foi do PDS e
depois passou para o PFL e que fez um excelente governo no Estado. Um
Governador que realmente administrou e fez muitas obras para este Estado. E,
diga-se de passagem, pagou os dois salários mínimos e meio como piso salarial
aos professores do nosso Estado e que o atual Governo não quer pagar, porque,
depois das eleições de 15 de novembro, que veio depois do Plano Cruzado, que
naturalmente antecedeu, como uma panacéia, aquela eleição retumbante dos
governadores do PMDB, tudo se tornou diferente, haja vista, se formos analisar
hoje, este semicongelamento que existe por aí. O Sr. Ministro Bresser Pereira
anunciou o congelamento, mas é um congelamento com fogo embaixo. Nada se
congela. Pegamos os meios de comunicação de hoje e eles estão aí a nos dizer
que doces, massas, biscoitos, etc., sofrerão um aumento de até 37%. O cigarro
foi aumentado, o pão, o café. Que congelamento é este? E já se anuncia que, no
período do congelamento, haverá dois aumentos nos combustíveis, nos derivados
de petróleo. Então, que congelamento é este? É um congelamento que visa,
unicamente, prejudicar o trabalhador brasileiro, prejudicar o assalariado. E nada
mais é congelado. Lastimavelmente, este é o nosso Governo e que se alinha lá de
cima, até aqui embaixo, em que se faz de tudo para prejudicar o assalariado
brasileiro. Esperamos nós, como pais, como chefes de família, que a proposta de
hoje, do Governo do Estado, seja uma proposta de cumprimento da Lei n.º 8.026,
seja uma proposta de cumprimento do pacto assinado com o magistério, seja uma
proposta em que mais do que nos professores pense o Governo do Estado nas
crianças do Rio Grande do Sul, que estão sofrendo, muitas sem entender o que
está-se passando, outras entendendo, e não aprovando ou aprovando, mas uma
coisa é certa: vamos deixar aqui reafirmado: a posição dos professores e do
magistério está correta e deve continuar com o apoio desta Casa e enquanto o
Governador não aceitar suas reivindicações. Esta acho que deve ser a posição de
toda esta Câmara Municipal de Porto Alegre. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Próximo orador, por inversão
de tempo com o Ver. Luiz Braz, Ver. Jorge Goularte.
O SR. JORGE GOULARTE: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores. Tenho ouvido nos últimos tempos notícias vindas da Assembléia
Nacional Constituinte de que as coisas essenciais ou ficarão como estão ou
piores na sua grande maioria, ou que o avanço que se pretendia, como a
maioridade aos 16 anos, como queria este Vereador, o voto como um direito e não
como um dever, a reforma agrária, a reforma tributária, a liberdade dos
Municípios de legislar, o parlamentarismo, eleições diretas, tudo isto está
ficando para o passado e vai ficando na conversa.
O SR. GETÚLIO BRIZOLLA
(Questão de Ordem): Agradeço à Mesa e não quero atrapalhar o discurso do meu amigo Jorge
Goularte. Fui colocar gravata, conforme exige o Regimento Interno. Embora de
bombacha e botas, uso gravata. Obrigado.
O SR. JORGE GOULARTE: Depois desta explicação
essencial para o funcionamento desta Casa, volto a falar. Eu dizia que sou
defensor da maioridade aos 16 anos para que o jovem, a partir dos 16 anos,
tenha os mesmos direitos e deveres que é hoje concedido ao jovem de 18 anos.
Até explico muito simplesmente esta argumentação, porque o jovem de hoje em dia
tem o conhecimento muito superior aos jovens da nossa época, Ver. Rafael
Santos, Ver. Lauro Hagemann, Ver. Caio Lustosa, que acho que concordam com este
Vereador, que as comunicações de hoje não são as comunicações de nossa época, o
jovem hoje tem um conhecimento muito amplo do mundo todo imediatamente quando o
fato acontece, e o jovem hoje tem condições de discernir sobre tudo o que lhe
cerca. Ademais, parece-me que, se a maioridade fosse concedida aos 16 anos,
muitos crimes que hoje são praticados pelos chamados menores de 18 anos,
impunemente, vejam bem, só por ter 17 anos e 11 meses o criminoso não ficaria
livre das penalidades da lei. Ora, eu pergunto: isso é justo? Quando se sabe
que muitos menores hoje em dia são irrecuperáveis, inclusive, infelizmente.
Mas, eu não quero falar sobre o lado penal, não quero falar sobre os deveres
apenas, quero falar sobre o direito do jovem de votar, de ser votado, de ser
maior no sentido de discernir sobre sua própria vida, de ter autonomia de
ingressar num negócio, numa indústria, num comércio. Por isso que este
Vereador, que aplaudiu o Dep. Federal Mendes Ribeiro quando apresentou esta
proposição na Constituinte, sente-se hoje frustrado por ver que aquela
providência não foi adotada pela Comissão respectiva, nem pela sistematização.
Acho que é imprescindível que se modifique a maioridade no País. Vi que na
Espanha o jovem vota aos 16 anos e acho que está muito bem, porque se o jovem
tem o conhecimento que hoje tem, que perito que não tive, que nós não tivemos,
por que ele não ter os direitos atinentes à sua época, à sua evolução, à
evolução do mundo nas comunicações e, por outro lado, fica esta possibilidade
de se diminuir o índice de criminalidade praticado pelos chamados menores de 18
anos que permanecem impunes, por serem, entre aspas, menores.
O Sr. Getúlio Brizolla: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Tenho um respeito muito grande pelo seu
pronunciamento. Ver. Jorge Goularte, o Senhor mora na família Brizolla. Tenho
até um orgulho nesta frase, que hoje, galpoleando e chegando perto de uma
pessoa que traz um baita de um carinho para o povo brasileiro, Leonel Brizola -
esse homem é um destaque internacional e valoriza o seu Partido pela sua
coragem de dizer no momento em que votarmos em Leonel Brizola, um abraço.
O SR. JORGE GOULARTE: É uma contribuição muito
importante. O Sr. Leonel Brizola, que já teve 16 anos e, evidentemente, que
será um ponto de apoio muito seguro para os jovens que lhe vêm sucedendo. Ele,
que, a meu ver, já deveria ir para casa cuidar de rosas, plantar flores e
cuidar dos netos. Por sinal, está-os cuidando muito bem. Impediu há poucos dias
que os netos vissem a sua filha nua numa revista. Então, eu acho que já é uma
contribuição para os jovens. E eu acho que até tem tudo a ver. Por isso que eu
defendo com maior vigor a maioridade aos 16 anos. Acho que é muito importante.
Para encerrar, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, eu gostaria de
enfatizar este aspecto: a maioridade aos 16 anos é uma necessidade. E o livre
exercício do voto também é outra necessidade. A obrigatoriedade me parece uma
imposição. E a liberdade da pessoa, de votar ou não, parece-me algo essencial.
Por isso, eu volto a defender a maioridade ampla aos 16 anos. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. GETÚLIO BRIZOLLA
(Questão de Ordem): Solicito a V.Exa. que faça verificação de “quorum”.
A SRA. PRESIDENTE: Há “quorum”, Ver. Getúlio
Brizolla. Com a palavra, o Ver. Luiz Braz.
O SR. LUIZ BRAZ: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores, eu cheguei no Plenário e ouvi o Ver. Jorge Goularte focalizar um
assunto que eu realmente muito gostaria de focalizá-lo hoje.
Porque hoje, como Jornalista que sou, recebi uma denúncia que me deixa
apreensivo com relação aos menores e a atitude que se deva tomar, foi-me
relatado por um inspetor que trabalha no DIPAM. Portanto, que se pode constatar
com muita facilidade, Ver. Jorge Goularte, quando os menores vão atingindo os
seus 18 anos, quando se vão tornando alvo da lei, eles consomem com seus
documentos e pedem ao juiz que lhes dê um atestado para que possam retirar
novos documentos, como se tivessem lá os seus 16 anos novamente, e eles que já
estão atingindo os 18 anos voltam para os 16. E os crimes continuam sendo
cometidos por pessoas que tem 21 ou 20 anos, como se tivessem 16 anos. Isso me
foi relatado, hoje, por um inspetor, um homem sofrido, lá do DIPAM, estava-me
contando delinqüências cometidas por pseudomenores, e começaram a brotar
lágrimas dos seus olhos, tal a sensibilidade desse homem diante dos fatos que
estão ocorrendo.
O Sr. Jorge Goularte: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Sou muito grato a V.Exa. em vir debater, exatamente,
o assunto que comecei, porque acho de extrema validade que se discuta, até por
pessoas que sejam contrárias ao meu ponto de vista, porque sou um democrata.
Mas acho que isto está-se tornando praxe, esconderem-se na menoridade
para praticar crimes, hoje em dia no Brasil, isto é uma das facetas. Agora,
quanto aos direitos, se o jovem tiver todos os seus direitos e deveres, ele vai
ter responsabilidade para exercer os seus direitos e responsabilidades, para
também, responder pelos seus atos, o que hoje não acontece. Então, isso eu acho
de extrema importância, que se discuta essa matéria e, eu insisto, eu acho que
o jovem de hoje em dia têm o conhecimento e uma condição muito melhor do que a
minha com vinte anos, com vinte dois anos à minha época. Eu penso assim e por isso
eu defendo a maioridade aos dezesseis anos.
O SR. LUIZ BRAZ: Nobre Ver. Jorge Goularte,
nós temos que ser extremamente realistas. Eu não posso enxergar, apenas, a
realidade que está ao meu redor. Eu tenho que enxergar essa realidade em toda a
extensão do território brasileiro. E, eu enxergando essa realidade, eu vou ver
que os menores que tiveram até agora algum acesso à educação, eles conseguem
atingir os seus quatorze anos, seus dezesseis anos, em plena condição, com
muita consciência realmente daquilo que eles vão fazer. Mas, a maioria das
pessoas, menores de idade, com dezesseis anos, infelizmente, Ver. Jorge
Goularte, nós temos que convir, ainda não têm consciência exata daquilo que
eles querem, nem para eles mesmos e nem para o futuro da Nação.
O Sr. Jorge Goularte: Não parece a V.Exa. que,
mesmo essas pessoas, V.Exa. pode até achar que eu estou exagerando, mas não. No
casebre mais modesto, hoje em dia no Brasil, existe uma antena de televisão,
existe a televisão, existem as comunicações.
O SR. LUIZ BRAZ: Mas isso é ruim.
O Sr. Jorge Goularte: Mas existem as comunicações,
por isso é que eu me pego nesse assunto, porque as possibilidades que têm os
jovens, hoje em dia, de conhecer o universo que os cerca com muito mais
condições do que nós na nossa época.
O SR. LUIZ BRAZ: Esse detalhe que V.Exa.
coloca como relevante e como muito bom, eu considero ruim, porque, afinal de
contas, dada a qualidade da nossa televisão, dada a qualidade dos nossos meios
de comunicação. Eu milito nos meios de comunicação há muito tempo, desde 13
anos de idade, são 27 anos de meios de comunicação, eu tenho para V.Exa. que,
infelizmente, nós somos vítimas de uma avalanche de programas que nos trazem
cultura que não é a que nós deveríamos estar levando até os nossos lares. Então,
os valores que os nossos jovens têm hoje em dia, infelizmente, não todos, mas
boa parte dos nossos jovens, os valores que eles têm não são os valores
nacionais, tanto é que os nossos jovens cresceram, dançando rock-and-roll,
twist, falando palavras estrangeiras, achando que os estrangeiros realmente são
mais fortes que os nacionais. Até chegando a considerarem que autores nacionais
são ruins e estrangeiros bons, que cantores estrangeiros são bons e os
nacionais ruins. O próprio samba, que é nacional e de boa qualidade, ela é
preferida pelos nossos jovens. Então, se de repente déssemos total condição
para que os nossos jovens pudessem exercer direito político, acredito que não
estaríamos contribuindo em muito para melhorarmos os nossos parlamentos e o nosso
governo em si.
O Sr. Jorge Goularte: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Então pergunto a V.Exa., como V.Exa. vê a
impunibilidade do jovem, hoje em dia. De que maneira poderia ser resolvida a
criminalidade nesta faixa etária?
O SR. LUIZ BRAZ: Eu sou obrigado a me guiar
por exemplos de países mais desenvolvidos e digo a V.Exa. que nos Estados
Unidos os jovens de menor idade, são condenados até a pena de morte.
O Sr. Getúlio Brizolla: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Agradeço à Mesa e a V.Exa., pois faz horas que peço o
aparte e não conseguia. Acho que está no Regimento Interno da Casa este direito
e eu falo em cima e dentro do Regimento. Não tenho a intenção de ofender
ninguém. Sou Getúlio Brizolla, um homem que trabalha. Ver. Luiz Braz, V.Exa. é
uma pessoa que tem no meu coração um carinho, agora, nunca tocar no sangue do
homem. Até pode brincar, mas não usar este sangue. Eu sou responsável por uma
luta de trabalho e não de mentira. Eu sempre coloco verdades, eu não minto e
não admito que Vereadores, meus colegas, mintam. Sou aquilo que tu és, uma
criança, um povo, uma luta e, por isso, eu valorizo Leonel de Moura Brizola.
O SR. LUIZ BRAZ: Meu nobre Ver. Jorge
Goularte, eu quero dizer a V.Exa. que para alguns jovens com esta idade de 16
anos, eu defenderia, realmente, o direito de voto. Mas, como não podemos fazer
leis discriminatórias, dizendo que alguns podem votar e outros não podem,
então, fica difícil se dar uma opinião com relação a este assunto, dizendo em
toda a sua extensão que os jovens menores de 16 anos poderiam votar. Eu até
digo a V.Exa. que eu era contrário, por exemplo, a que analfabetos tivessem
direito ao voto. Surgiu um grande problema nestas últimas eleições, o
analfabeto iria para a cabine votar e como iria ler os nomes que ali estavam
assinalados se ele não tinha condições de distingui-los. O analfabeto votou sem
muitas condições de votar e de fazer a escolha certa. Ele ganhou um direito,
mas que se transformou numa grande dificuldade, no final.
O Sr. Jorge Goularte: Veja bem, Vereador, com 16
anos há jovens entrando na universidade.
O SR. LUIZ BRAZ: É por isso que eu digo a
V.Exa. que para alguns jovens, nesta idade, eu defendo o direito de votar, mas
se nós raciocinarmos no todo, e nós sabemos que não temos um País, realmente,
evoluído, nós temos um País com extremas dificuldades, está aí a Ver.ª
Teresinha Chaise que defende muito o problema do menor aqui em Porto Alegre e
ela sabe muito bem que o menor está precisando ser muito assistido na atualidade,
está precisando receber toda a assistência da sociedade, de todos os meios
governamentais, para que possa realmente ganhar esta posição de, um dia, poder
votar. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Caio
Lustosa, por cessão de tempo do Ver. Lauro Hagemann.
O SR. CAIO LUSTOSA: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores, de há muito tempo tem sido preocupação desta Casa, e mormente
quando ocorrem os grandes incêndios que têm ceifado vidas preciosas de nossos
concidadãos, a maneira de fazer com que os prédios recebam uma fiscalização
prévia, desde o momento da sua construção, fiscalização que já chegamos a
concluir, em inúmeras reuniões de Comissões desta Casa, deverá ser exercida
cumulativamente pelo Município, mais especificamente a SMOV, e pelo Corpo de
Bombeiros. Fruto de um trabalho prolongado e dedicado - e aqui eu lembro o
esforço do Ver. Adão Eliseu neste sentido, ele próprio como ex-integrante do
Corpo de Bombeiros - conseguiu, em 9 de setembro de 1985, a aprovação de uma
Lei por esta Casa, que levou, afinal, o número 5.617. Por esta Lei,
restabeleceu-se um poder que já existia, no passado, nesta cidade, de o Corpo
de Bombeiros submeter a exame prévio todas as construções, instalações
elétricas e tudo mais, no sentido de, ao menos por ocasião dos sinistros,
facilitar a atividade do Corpo de Bombeiros, pois esta Lei, segundo me recordo,
Projeto do Ver. Adão Eliseu, já vai completar 2 anos, e o Executivo Municipal,
o anterior, disse que seria pouco o tempo de três meses para fazer o convênio
com o Corpo de Bombeiros. O atual Executivo vai para quase 2 anos de mandato e
não conseguiu sequer formular este convênio com o Corpo de Bombeiros. Nós
renovamos, por inúmeras vezes, a informação e acabamos de receber do Sr.
Prefeito a resposta de que a Lei não está regulamentada por Decreto. Isto não é
desculpa, sabemos que, mesmo não estando regulamentada a Lei, esta tem seu
poder de aplicação. É coercitiva em questões como esta, de alto interesse da
população. Outro argumento do Prefeito para que a Lei não esteja sendo cumprida
é de que este cumprimento contraria os interesses da indústria imobiliária
porque implica exigências que eles não querem obedecer. Outro argumento do
Prefeito é o de que a Lei não fixou o prazo para regulamentação. São desculpas
mais do que esfarrapadas para impedir que um simples convênio que poderá ser
feito em questão de uma ou duas horas com autoridades do Corpo de Bombeiros,
que sabemos receptivas a esse convênio, não está-se concretizando, não foi
concretizado ao cabo de quase 2 anos porque a Lei não está regulamentada,
porque não havia prazo para a regulamentação. Por isto, estamos aqui apelando
ao Sr. Prefeito Municipal, que, a bem da verdade, nos informa que há um grupo
de trabalho que está elaborando o presente convênio. Pedimos urgência
urgentíssima, inclusive ao Secretário de Obras, Wilton Araújo, que sabemos tem
dedicado o máximo esforço a fiscalizar esses prédios que, volta e meia, estão
incendiando e submetendo a riscos imensos a nossa população.
O Sr. Adão Eliseu: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Ver. Caio Lustosa, apenas para fazer justiça, quero
informar a V.Exa. e aos demais Vereadores que a idéia nasceu da minha pessoa,
porque eu era presidente da Comissão Especial que tratava das questões
relacionadas à possibilidade de um incêndio no prédio da antiga Câmara e,
diga-se de passagem, o nosso trabalho serviu, também, para que quando o novo
Governo, o de Alceu Collares, de posse desse trabalho, de todas as anotações ali
contidas, achasse por bem, porque quando a gente escreve as coisas,
responsabiliza o destinatário, achou por bem promover a mudança da nossa Câmara
para cá, mas integrava esta Comissão, e onde eu sugeri que se fizesse a Lei, os
Vereadores Antonio Hohlfeldt, Aranha Filho e Wilton Araújo, realmente a idéia
deste Vereador, mas debatemo-la em toda a Comissão, e surtiu o efeito que
V.Exa. apregoa num bom momento, numa oportunidade muito aprazível hoje.
O SR. CAIO LUSTOSA: Agradeço o aparte de V.Exa.
Digo que sou o primeiro a reconhecer o mérito, inclusive do Prefeito, em ter,
diante daquela situação de risco permanente que sofríamos na Câmara velha, ter
promovido, concretamente, a relocalização do Legislativo. E o próprio
Secretário da SMOV de estabelecer critérios e ações de fiscalização concreta
com relação aos incêndios.
Quero-me referir a outro assunto que, de certa forma, teve ampla
ressonância em nossa Capital na semana passada. Quero-me referir à
identificação criminal, absurda, violenta a que foram submetidos os dirigentes
do Movimento de Justiça e Direitos Humanos Omar Ferri e Jair Krischke e
Agostino Veit. Mais do que uma identificação criminal que só se concebe em
pessoas desconhecidas ou de identidade posta em dúvida, essas ilustres
personalidades que tanto do seu tempo e de suas vidas têm dado à luta contra o
arbítrio e contra a violência foram submetidos eles próprios a um ato de
arbítrio e de violência. E não pode passar este episódio sem o nosso protesto,
o mais candente aqui neste Legislativo. E o fazemos inclusive valendo-nos de
Editorial do “Diário do Sul” de sábado último, quando diz: “Há momentos na vida
de uma sociedade, quando a indignidade é tanta, que fica proibido o silêncio”.
Agora é um desses momentos. Anteontem três homens de bem, destes cuja estatura
moral é difícil de se encontrar, foram submetidos a uma vilania pela polícia do
Governador Pedro Simon. E esse Editorial se chama a Crônica de Luiz Fernando
Veríssimo, que não é menos expressiva ao dizer: Os indiciados são homens que enfrentam
incompreensão e ameaças na defesa de uma idéia simples, a de que um suspeito,
um bandido ou um assassino nas mãos da polícia está nas mãos da sociedade que a
mantém. E quem desonra o seu cargo nos desonra a todos. Com outra consciência
do seu papel, os policiais que vaiaram - eis que além de submetidos à
identificação sofreram uma pressão absurda e abusiva de duas dezenas de
policiais civis - os policiais que vaiaram teriam aplaudido estes defensores de
direitos que deviam ser elementares ou pelo menos lhe dedicado a admiração
devida, à coragem, mesmo, de um inimigo. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Próximo orador inscrito é o
Ver. Kenny Braga.
O SR. KENNY BRAGA: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores. Existe um dispositivo constitucional, que senão universal, e por
isso mesmo nunca contestado, que o Estado tem obrigação de assegurar o ensino
de primeiro grau para as crianças nas faixas de sete a doze anos de idade.
Pois, incrivelmente, e absurdamente este dispositivo constitucional não está
sendo respeitado no Rio Grande do Sul há mais de sessenta dias. Apesar do
dispositivo constitucional que as crianças de primeiro grau devem ter ensino
oferecido pelo Estado, no Rio Grande do Sul, as crianças não estão freqüentando
as aulas há mais de 60 dias, e neste sentido está sendo ferido, oticamente,
indiscutivelmente um dispositivo constitucional.
Confesso-lhes que, diante da greve do magistério, estou um pouco
desiludido, um pouco desencantado. E esta desilusão aumenta na medida que converso
com pais de alunos que se encontram numa situação, extraordinariamente, difícil
e até, sem saber o que fazer, sem saber o que pensar diante do futuro escolar
dos seus filhos.
Hoje, um amigo me dizia que não acredita na solução desse impasse, que
está-se eternizando, e que por isso iria conseguir um emprego para que seu
filho não permanecesse em casa e não permanecesse na rua. A solução de milhares
de pais, desesperados, talvez seja essa, a de conseguir um emprego para seus
filhos porque o Governo do Estado não tem capacidade administrativa, não tem
capacidade política, de resolver o impasse que dura mais de sessenta dias.
E nesta hora me pergunto onde estão as lideranças políticas do PMDB,
tradicionalmente identificadas com o magistério, que se beneficiaram do voto
dos professores, através de suas carreiras políticas e que, neste momento,
estão absolutamente caladas e não contribuem em nada para a solução desse
impasse. Da forma como este assunto está sendo tratado no Rio Grande do Sul, é
degradante para o Estado. O Governador Pedro Simon tem manifestado o absoluto
desprazer no trato desta questão. Ele não tem nenhum interesse em tratar
pessoalmente da questão do magistério, da questão salarial do magistério, tanto
que, delegou as funções para o Vice-Governador do Estado, Sr. Sinval Guazelli.
O Governador mostra-se nauseado no trato da questão do magistério. Não tem
apetência para tratar desse assunto, não tem interesse para tratar desse
assunto e enquanto isso milhares de crianças do Rio Grande do Sul ficam sem
aulas, diante da incompetência visceral do Governo do PMDB. E, diante também,
porque não, da intransigência das lideranças do professores por parte do CPERS,
que não aceita nenhuma proposta do Governo do Estado e só sabe dizer não, só
sabe rejeitar todas as propostas que o Governo do Estado faz. Então, de um
lado, nó temos a renitência do Governo Pedro Simon e a intransigência crescente
do magistério, liderado por alguém que é, nada mais nada menos, do que o
suplente de Senador pelo PMDB do Rio Grande do Sul. Então, nessa briga do mar e
do rochedo, quem sai perdendo evidentemente que é o marisco, representado por
milhares de crianças de Porto Alegre e de todo o Estado que estão correndo o
risco de perder o ano letivo, diante da incapacidade administrativa absoluta do
Governo do Estado e diante da intransigência sem precedentes das lideranças do
magistério do Rio Grande do Sul.
Eu lhes pergunto se os Senhores sabem o que significa um ano letivo na
vida de uma criança? Eu lhes pergunto se a situação das crianças não tem a
menor importância? Eu lhes pergunto se as crianças foram relegadas a um segundo
plano? Se elas não têm importância nas cogitações dos políticos do PMDB e nas
lideranças do magistério, as de parte do CPERS. Não acho de parte dos políticos
do PMDB nenhuma conciliação a essa situação, como se estivéssemos numa situação
normal, quando o Estado do Rio Grande do Sul nunca viveu uma situação mais
dramática e mais vexatória.
O Sr. Caio Lustosa: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Vereador, acho que V.Exa. não estava presente quando
formulei um aparte reiterando a minha posição. Ontem, na discussão do reajuste
dos funcionários municipais, estendi por vários minutos a posição justa da
greve. Há vozes. O Dep. Hermes Zanetti está reunindo setores do PMDB ligados ao
magistério para tentar fazer com que o Governo do Estado reverta a sua posição,
ao nosso ver, equivocada. Não se porque dizer que não vozes, no PMDB, em apoio
à greve. Pode ser que a maioria do PMDB não esteja apoiando, pode ser que haja
setores que não apoiam a política do Governo em relação à greve. Mas há setores
que estão desconformes, pois apóiam a greve.
O Sr. Kenny Braga: A nossa posição é diferente.
O SR. CAIO LUSTOSA: V.Exa. diz que há renitência
das lideranças do magistério. Acredito que não. O CPERS é uma entidade
democrática, e as lideranças não podem atropelar as bases em seus sentimentos.
Cada vez que vem uma proposta, as bases é que se negam a um acordo.
O Sr. Kenny Braga: Estou verberando a
desinteligência e intransigência que está mediando o impasse. Chamo atenção ao
fato grave: está acima do Governador Pedro Simon da importância das professores
(inaudível): o futuro das crianças, cujo Estado tem obrigação de colocá-las em
sala de aula. O Estado não faz isso, até numa afronta ao dispositivo
constitucional. Isso não está sendo discutido. O Governador Pedro Simon está
dizendo, com todas as letras, hoje, que a folha do magistério vai a seiscentos
e quarenta milhões de cruzados só para professores. Se conceder o piso, vai a
um bilhão e trezentos, em junho, e, depois, uma quantia estratosférica que o
Governo não tem condições de arcar, nem pagar. Se essa é a posição do
Governador, se ele mostra com números que não tem condições de atender. Então
estamos diante de um impasse. O Governo diz que não tem dinheiro para pagar, e
os professores não aceitam nenhuma proposta, e tudo acaba caindo nas costas dos
nossos filhos e das nossas crianças. É preciso que os políticos tenham coragem
de discutir este assunto abertamente, sem medo de patrulhismo e não temendo o
patrulhismo de ninguém. Estou dizendo isso claramente, porque estou
representando o sentimento de várias pessoas que não têm uma tribuna para
falar, não têm um jornal para escrever e emissora de rádio para se manifestar.
É uma maioria silenciosa, angustiada, cansada e até nauseada desta situação que
não tem paradeiro.
O Sr. Clóvis Brum: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Ver. Kenny Braga, concordo com V.Exa, quando diz que
setores do Governo não procuram agilizar o máximo possível a solução do
problema salarial. Concordo com V.Exa, quando declara a intransigência do
CPERS. Agora, rigorosamente, o que mais recolho do pronunciamento de V.Exa. é
que ninguém está tendo coragem cívica e humana de falar sobre o descaso dos
professores com as crianças. São profissionais para tratar das nossas crianças
e não estão tratando. Não estão tratando com dignidade e com grandeza. Isto
está-me enojando também. Se o Governo do Estado está falhando, os professores
não estão cuidando de sua profissão. E crianças começaram a passar fome nesta
Cidade e neste Estado, porque nem mais a merenda escolar comem. Isto é uma
vergonha para os professores também.
O SR. KENNY BRAGA: Para concluir, Sra.
Presidente, a síntese do meu discurso é que um dispositivo constitucional está
sendo desrespeitado no Rio Grande do Sul. O Estado tem obrigação de dar às
crianças condições de estudo, e aqui não está oferecendo. Então, se esta
situação se agravar, seria o caso até de uma medida extrema, de intervenção
federal. Assim não dá para continuar. Sob pena de perdermos o ano letivo.
Pergunto, quem é o responsável por isto? Eu não sou e quero uma solução
imediata por isto.
O Sr. Caio Lustosa: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Ver. Kenny Braga, só para sublinhar que uma
Constituição não pode ser cumprida por partes, conforme o interesse deste ou
daquele segmento. A Constituição assegura, antes de tudo, aos brasileiros, o
direito ao salário digno, ao mínimo que possa proporcionar a sobrevivência de
um intelectual como os integrantes do magistério. E, no momento em que há o
descumprimento deste direito, o outro direito fica, também, colocado em risco.
Então, os Senhores não podem exigir e recriminar, assim como o Líder da minha
Bancada não pode estar colocando em cima do magistério uma culpa de uma
situação pela qual o magistério não é responsável. O magistério não é
responsável pela miséria e pela exploração que o povo brasileiro sofre. Então,
V.Exa, com o espírito de justiça que lhe caracteriza, há de reconhecer isso.
O SR. KENNY BRAGA: A posição do Ver. Caio
Lustosa é muito mais confortável do que a minha, porque eu tenho filhos na
escola e o Ver. Caio Lustosa não tem. Então, esta situação é muito simples e
confortável. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Estamos recebendo a visita
do Ver. Ivo Renê, do PMDB de Chapada. Nobre Vereador, sinta-se em Casa, é um
prazer recebê-lo nesta Casa.
O próximo orador inscrito é a Ver.ª Jussara Cony. V.Exa. tem 10 min.
A SRA. JUSSARA CONY: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores, Sr. Vereador que nos visita, honrando esta Casa, inclusive pela
oportuna visita, na medida em que vamos falar da luta que mil e quinhentos
Vereadores travaram em Brasília na última semana com a participação efetiva dos
Vereadores desta Casa.
Sra. Presidenta, Srs. Vereadores, colegas, vamos fazer, exatamente, em
função do que ocorreu ontem, quando esta Casa, através da Assessoria de
Imprensa, convoca uma coletiva à Imprensa com a participação da Presidência da
Mesa, das Bancadas, dos Vereadores que participaram da Marcha a Brasília, que
se deslocaram, inclusive, desta Câmara Municipal, anteriormente, para
acompanhar as votações na Assembléia Nacional Constituinte e exercer as
pressões necessárias e, neste momento, resgatando inclusive os Vereadores que
aqui ficaram, dando continuidade aos trabalhos da Casa, nós queremos dizer que
falamos, como Vereadora desta Casa e como Membro da Executiva Nacional,
Secretária-Geral, que coordenou o encontro da União dos Vereadores do Brasil.
Estranho, em primeiro lugar, Sra. Presidenta e Srs. Vereadores, talvez
não fosse o caso de estranharmos, porque, realmente, quando se deslocam
Vereadores a Brasília para lutar por uma Constituinte democrática e
progressista, aliás, o nome da nossa Marcha e intenção do trabalho que fizemos
lá, a imprensa burguesa, naturalmente por não querer uma Constituinte
democrática e progressista e jogar junto às forças reacionárias e retrógradas
deste País, não dá sequer a atenção a um Poder Legislativo como este, que se
desloca para realizar o trabalho que realizou. E aqui eu quero resgatar, antes
de mais nada como dirigente da União Nacional dos Vereadores do Brasil, a
importância que tiveram os Vereadores da Câmara Municipal de Porto Alegre, juntamente
com sua entidade máxima, ao terem-se deslocado para acompanhar o processo de
votação. E dizer, de um lado, dos colegas que aqui ficaram, dando condições de
continuidade aos trabalhos desta Casa e, de outro, aos colegas de todas as
Bancadas que, em Brasília, exerceram um papel, no meu entender, decisivo,
inclusive encaminhando, através da sua participação em todas as Comissões Temáticas,
as pressões necessárias junto aos setores progressistas e democráticos e já
encaminhando a respeitabilidade que conseguimos exatamente com este trabalho,
representando esta Câmara, todos os Vereadores, no encaminhamento já da Marcha
a Brasília, que se iniciou no dia 16 e da qual, neste momento, queremos
comunicar a Cidade de Porto Alegre e ao Estado do Rio Grande do sul, do
trabalho realizado por 1.500 Vereadores. E o fazemos oficialmente, através da
leitura, desta tribuna, por dever de ofício, como Vereadora desta Casa e
dirigente da UVB, da Carta de Brasília, que é fruto de um trabalho intenso dos
vereadores de todo o País, que lá estiveram, divididos em Comissões Temáticas,
exatamente aos moldes das Comissões Temáticas da Assembléia Nacional
Constituinte, que, um dia após ser encaminhado à Comissão de Sistematização da
Assembléia Nacional Constituinte, o trabalho destas Comissões Temáticas já
leva, concretamente, as suas propostas, na maioria desconformes com o que está
ocorrendo na Assembléia Nacional Constituinte. Este é o teor dessa Carta, para
registro nos Anais e na história desta Casa. (Lê.)
“MARCHA DOS
VEREADORES DO BRASIL POR UMA CONSTITUINTE DEMOCRÁTICA E PROGRESSISTA.
Os Vereadores
brasileiros, presentes na MARCHA A BRASÍLIA POR UMA CONSTITUINTE DEMOCRÁTICA E
PROGRESSISTA, realizada de 16 a 18 de junho de 1987, um dia após ser
apresentado à Nação o Texto Constitucional oriundo das Comissões Temáticas:
Considerando:
1 - que os
interesses da maioria do povo brasileiro estão prejudicados pela interferência
na Assembléia Nacional Constituinte das forças conservadoras e dos que detém o
poder político e econômico no País;
2 - que, a
prevalecer a redação dos relatórios das Comissões Temáticas, a Nação brasileira
será traída em seus anseios de vencer o atraso e o conservadorismo e de
garantir o progresso e a justiça social;
3 - que,
somente com a interferência das forças que desejam soluções avançadas para o
nosso País é que se conquistarão posições vantajosas na futura Carta Magna
REAFIRMAM aos
Constituintes e à Nação o seu compromisso na conquista de uma Constituição
verdadeiramente democrática e progressista, na qual estejam firmados os
princípios básicos com força de lei que garantam, entre outros:
- a
verdadeira soberania e independência nacional;
- as
liberdades democráticas;
os direitos econômicos, políticos e sociais
aos cidadãos brasileiros;
- uma reforma
agrária e uma reforma urbana que contemplem os interesses dos trabalhadores e
do povo brasileiro e a demarcação das áreas indígenas;
- a autonomia
e a independência dos Poderes;
- a imunidade
e a inviolabilidade parlamentar em todo o território nacional;
- uma reforma
tributária que devolva aos municípios brasileiros o que lhe pertence de
direito;
- a retomada
de prerrogativas de legislar sobre matéria administrativa, financeira,
orçamentária e tributária;
- o direito
de formular as políticas municipais e de elaborar as leis orgânicas municipais;
- o sistema
do voto proporcional;
- o mandato
de quatro anos para Prefeitos, Vereadores e Presidente da República.
FAZEM, os
Vereadores do Brasil nesta Marcha a Brasília, um brado por democracia e
liberdade!
Neste sentido
se colocam frontalmente contra a manobra de prorrogação de mandatos de
Prefeitos e Vereadores e do mandato-tampão, a qual visa impor ao povo o fato
consumado de eleições somente em 1989 e conclamam a todos os democratas a,
promulgada a nova Constituição, eleger, por voto direto, em 1988, o futuro
Presidente do Brasil.
Por
entenderem que a atual fase do processo constituinte é decisiva para garantir o
avanço e as mudanças, os Vereadores brasileiros se incorporem, através das
Câmaras Municipais, das Uniões Estaduais e de sua entidade máxima, a União dos
Vereadores do Brasil, na campanha das Emendas Populares e conclamam a uma ampla
participação popular nas assinaturas dessas emendas.
Finalmente,
REAFIRMAM aos Constituintes e à Nação, a sua decidida disposição de acompanhar
as votações na Assembléia Nacional Constituinte, em caravanas de Vereadores de
todo o Brasil, a Brasília, nos momentos oportunos, envidando todos os esforços
para assegurar posições vantajosas ao povo que representam, com a conquista de
soluções avançadas para o país no quadro atual nível de desenvolvimento
econômico, político, social e cultural do Brasil.
NÓS,
VEREADORES, NÃO NOS APARTAREMOS DE NOSSOS COMPROMISSOS; ESPERAMOS O MESMO DOS
CONSTITUINTES, para que possamos construir a nova Nação brasileira.
BRASÍLIA,
DF., no auditório Petrônio Portella, aos 18 de junho de 1987.
Vereador
PAULO SILAS ALVARANGA DE MELO
Presidente
Vereadora JUSSARA R. CONY
Secretária Geral”
A SRA. JUSSARA CONY: Esta Carta foi assinada por
todos os vereadores presentes ao Encontro e entregue na Sessão final do
encerramento ao Presidente da Comissão de Sistematização, Deputado Afonso
Arinos, e ao Relator da Comissão de Sistematização, Deputado Bernardo Cabral, e
ao Presidente da Assembléia Nacional Constituinte, Dr. Ulysses Guimarães.
As Câmaras Municipais de todo o País lá presentes, dirigidas pela União
de Vereadores, passam, agora, por uma nova etapa, etapa essa que a Câmara
Municipal teve uma participação decisiva, através dos nossos Vereadores lá
presentes. Quando propúnhamos, imediatamente, e isso ocorrerá já a partir desta
semana, na Cidade de Porto Alegre, unirmos os oradores junto com os movimentos
populares e democráticos, para irmos às ruas na busca das assinaturas das
emendas populares e, mais do que isto, estabelecermos na Esquina Democrática um
painel para mostrar a votação, quando ocorrerem as votações e de que maneira
estão-se comportando os constituintes eleitos pelo Rio Grande do Sul, e
acompanhar essas votações, não isoladamente, mas em caravanas estaduais,
fazendo um rodízio dos próprios Estados, na Assembléia Nacional Constituinte,
junto com os movimentos populares e democráticos. Entendemos que, assim, Sr.ª
Presidente e Srs. Vereadores, um mandato popular outorgado pelo povo, de mais
de 4 mil Municípios de todo o País, que elegeram, em 1982, 47 mil vereadores,
este entendemos que é o papel da AVB, e eu quero em nome da nossa Entidade da
qual fazemos parte da Executiva Nacional, destacar, mais de uma vez, o papel
decisivo que teve a participação dos Vereadores da Câmara Municipal de Porto
Alegre, que, com muita honra, pertencemos. Muito Obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
A SRA. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar,
levanto os trabalhos, convocando os Srs. Vereadores para as reuniões das Comissões
Permanentes, a seguir, e para a Sessão Solene, às 16h, destinada à outorga do
título honorífico de Cidadão Emérito ao Dr. Mário Alexandretti.
Estão encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 15h30min.)
* * * * *